segunda-feira, julho 19, 2004

A fria nuca de um pterodáctilo. Nada me tira a tristeza da ciência: o desaparecimento dessa existência. Buscava apenas segurar o ar do mundo, ó quão belas manoplas e manobras. Nada explica. Na desobediência dos contemporâneos, tudo escapa de sua postura, morros e falésias dominados, tomados à exaustão milênios afora. Quem lhe soube pássaro o desafia, nada lhe cai tão bem como o sol da manhã e a brisa da tarde, único resíduo ontem encontrado em suas vísceras. Partiu bem, vendo a enseada e o infinito azul de não ter pelos ou penas. Talvez fechasse os olhos por medo do grande jabuti.
Doudo viver e duro, a velha sonha ter asas para visitar seu passado. Creio ter ouvido isso algum dia, enquanto sondava o oco dos célebros das periferias. A potência lancinante das gerações futuras disparou-me a mutação, hoje por ela, cujo frio transita consciências.
Criatura desconhecida e nada ignóbil, alguém é por ti no reino branco das insolências.

sexta-feira, julho 16, 2004

Em sendo assim, despojada está toda a face humana. Caiu o véu do ridículo ser que precisa do acrílico para ver o que lhe vai adiante de um palmo. Foi-se a pseudo-arrogância de não se imaginar revelando para não ser pseudo-entendido e uma porção mais de pseudos que só depõe contra a imagem do ser e do tugúrio. É costume agora perceber esse infernal brilho em seus olhos, clamando a justiça ao que não é percebido, o bom-senso, a elegância ao que é aviltado pelas exclamações hodiernas.
Vá-te!
É hora de um grande arroto, em mi bemol, ser respeitado por céu, mar e terra. O controle das vísceras do carbono submete-se ao eu dessa entidade multiforme e bonitinha. Abaixo o reto. Despenteai vossos cabelos, uma nova ordem está por vir.
Sobretudo, rasgai vossas vestes, elas já não vos servem.


dignidade alazã

Os animais são pobres, eu também.
Os animais são ricos, eu não.
Os animais têm reino, eu sirvo e não sirvo.
Os animais se amontoam quietos, incomodam-me os barulhos alheios.
Os animais vestem a moda eterna, eu o que minha mãe me comprou no saldão.
Os animais se humilham por comida, eu sou cristão não-praticante.
Os animais bateram todos os recordes, eu tenho dores nas costas tecnológicas.
Os animais estiveram na arca, eu no ataúde estarei.
Vede e invejai! Burro é quem escreve.

domingo, julho 11, 2004

será que eu me adapito?

Um antigo fã de quem sou fã, operoso de imensa barracuda benfazeja, instou para que o período de hibernação se findasse. Consultando minhas dores e pesares, achei por bem dar uma tentadela, não que isso seja mais do que um forcejar vitelino de réptil cujo suco pancreático, hmmm, parece estar por acabar.
Faz-se necessário uma queda do limbo e, en avant, à caça de organismos para requentar a vida, a libido, o tecido e o pão amanhecido.
Nesta breve estada da vida, aqui, talvez faça rincão maior aos olhos de quem possa entender cualquiera que sea la intención. As metamorfoses não param e tenho vontade de ir ao banheiro novamente verificar se tudo está ok.
Força a quem lê.