domingo, abril 20, 2008

Emília em alemão

Dono de grande generosidade, Markus Hediger traduziu esse meu texto para o alemão, algumas vezes, na minha parca intelecção da língua, até mesmo melhorando-o.
Meu reconhecimento não poderia se dar por outra via que não colocá-lo aqui.


Emília mit dem langen Haar, violettes Rankenornament, das seine Züge nachzeichnet, wie Schriften entlang einer toten Wand, dem Schild.
Emília, Mädchen des gemessenen Schrittes, der Kadenzen, der kindlichen Angst, der Gesänge in der Stille, der bemühten Zurückhaltung, und stolz.
Emília, ewiges Lächeln, ein Leben gemacht und ungemacht, zweifelnd im Ursprung schon, diese Schweigende Emilia, die sich von der ewigen Liebe, von der ewigen Leidenschaft ihrer Dinge bewegen lassen will.
Emília, die Moderne, denkt sich irgendwas und es interessiert mich nicht, denn sie vergisst mich, denkt sich verführt und wieder vom urbanen Leben. Emília, Schönheit aus den Fugen der Zeit, Herrin der Hände, mutig und unerschrocken, bescheiden aber reif, Feld einer nie endenden Ernte, auf meiner Zunge sammelst du Erinnerungen: Emília, zukünftige Frucht meines Leids, notwendige Liebe, unausweichlicher Tod, Falter am heissen Licht.

Outrora

E então, Emília.
Antes ainda, Dorinda.
Amor, ai, amor que não finda. Derradeiragem dos meus dias. Contagem eterna de sofrimento. Gota pendurada que não cai. Ai, amor.
Martha, amo-te como um corte transversal no tronco.
Dorinda, amo-te à guisa da beleza convincente das possibilidades, da luz que teme os cantos e beiradas. Dorinda dos quadris largos e pacientes, beleza pura das misturas puras, pupa da minha noite sem estrelas. Ah, Dorinda... quando estiveste tão perto de mim, quando desististe do siso para alimentar essa cruel doença em mim arraigada. Teu fustigante negro pelo e os dentes mais lindos do planeta, mais oficiais e oficiosos. Desejei-te no agreste das veredas, Dorinda, vestido de nossas crianças todas juntas, alpercatas e amor todos dias, com tua doçura incontida, a me contar anedotas do teu fastidioso cotidiano. Dorinda, por um dia abandonei tudo e raptei-te a essa minha rústica casa de barro, do outro lado do rio, onde sempre concordamos e abraçados esperamos a aurora para dormir eternamente.