domingo, abril 20, 2008

Outrora

E então, Emília.
Antes ainda, Dorinda.
Amor, ai, amor que não finda. Derradeiragem dos meus dias. Contagem eterna de sofrimento. Gota pendurada que não cai. Ai, amor.
Martha, amo-te como um corte transversal no tronco.
Dorinda, amo-te à guisa da beleza convincente das possibilidades, da luz que teme os cantos e beiradas. Dorinda dos quadris largos e pacientes, beleza pura das misturas puras, pupa da minha noite sem estrelas. Ah, Dorinda... quando estiveste tão perto de mim, quando desististe do siso para alimentar essa cruel doença em mim arraigada. Teu fustigante negro pelo e os dentes mais lindos do planeta, mais oficiais e oficiosos. Desejei-te no agreste das veredas, Dorinda, vestido de nossas crianças todas juntas, alpercatas e amor todos dias, com tua doçura incontida, a me contar anedotas do teu fastidioso cotidiano. Dorinda, por um dia abandonei tudo e raptei-te a essa minha rústica casa de barro, do outro lado do rio, onde sempre concordamos e abraçados esperamos a aurora para dormir eternamente.