terça-feira, agosto 02, 2005

Kronstadt

Cu de cobre. Falsidade.
O leão das matinas, espreitando presas desavisadas, dormentes, despertadas. Vendeu sua juba aos primeiros, na verdade, leiloeiros de um suburbano mercado de pulgas. Acredito mesmo que tenha só alugado. Aquela sua alma quis sempre igual à dos grandes, ultraje dos caolhos, metidos a besta.
A barriga de víbices em plenário, empossando grosseira colônia de carrapatos, para todo sempre, escondidos em casernas abrigadas nas lenhas do próximo inverno. Leão-sapo das galerias, submerso em inconfidência, recolhendo em seu papo novas futuras negativas. Furta-se do clima seco e amaro em sombra que lhe fornecem subalternas palmas. Não bebe sua pele seca, saca a azeitona. De qual língua retrátil todos nós, pobres, receamos a pega.
Antigo leão, crido raposa, salvador dos caminhos pobres e agrestes, filho dos filhos e avós. Quiseram-no assim, representante por oriundo, o cabra. Feitor de longas eras desencontradas, dedo-a-menos, servidor do canhoto, sapeca de vermelho a cauda de quem se lhe aproxima em ritual sanguinolento, chagas internas, incuráveis hematomas. Rés do enxofre, filho desregrado, desmamado à natureza, chama a si através de inconfundível e atordoante grunhido.
Acendeu a vela da nossa casa e espreita, espera que durmamos ou que acordemos. Namora nossa desatenção, letal veneno. Leão-lobo peidorrento, sarna decomposta, cuidado cu dado e divulgado, exposição controlada do ardor das vísceras a serem consumidas. Leão-chimpanzé, a rir do que não tem graça, a comportar-se por banana que o seja, a masturbar-se para alegria da ninfa vizinhança. Grotesco mandril das estepes, espécie de tumor evolutivo que a si mesmo não se explica.
Segue, comanda a arca e seus descendentes. Espetáculo duro de ver, canibalismo aceito e prenunciado, no riacho que sobe o morro, deixando-os a seco, desnudos. Comanda lesmas aos pares, cujas gosmas rastreadas abundam nas estantes juventinas. Flora cactante dos intestinos públicos, morte certa, funerais anônimos, em nome de.
Conheço-o como minhoca, a comer terra indistinta, matéria-prima dos calvários, necessária graxa das eternas rodas, em si mesmo contido como o nada que se exalta, na convencional potencialidade. Chacona das entranhas maternas, gaiata, matreira, revolvendo as substâncias por inexoráveis estéticas. Carroça húmica, anelando o subterrâneo mundo, atrás, deixando-se a si em rastro anal. Fluxo entrópico das obviedades, travestidas em ciência. Cego marchar de semelhantes archotes, seguros de seu caminho. Gravidade.
Leão, apenas minhoca, isca de peixe.