sábado, julho 16, 2005

O que me parece mesmo é que sonhar com uma girafa não é certo. Um algo de maniqueísmo: elas só têm perfil, bidimensionais.
Não é certo, porque desconfio de que embaixo delas há uma varetinha, dando-lhes equilíbrio. São destacáveis, figuras de sombra, sonhos perdidos e recuperados. Há algo de giráfico em olhar para baixo e lembrar que o mundo não é tão pequeno assim, como dizia meu amigo de Laputa.
Há também um certo desconforto de sonho em sonho, de acordar para dormir, de continuar, à maneira delas, de olhos fechados, semi-abertos. Se um pesadelo, um alívio à pena pago, se primícias, um desvelo de existência, seguido pelo ocre das manhãs mal dormidas.
Um sujeito como eu preferiria sonhar com uma árvore outonal, que anda, um tanto desajeitada. Sonharia também com um tráfego de veículos marrom, padronizados e irregulares, no deserto de areia. Teria a fantasia de elevadores como seiva arterial, antenas movediças que os levassem, satélites, onde manda o pobre coração.
Feitas adaptações, quase posso ouvir a voz de uma delas, sugada por séculos de indefectível evolução ungulada, sonhada em pé por camelos-leopardos querendo ser...