terça-feira, maio 17, 2005

Descemos então, pela virada das pedras. No ângulo certo, bruto mas esperado, tomamos a curva e abrimos caminho no mar aberto. Azul tremente no além, espaço infinito. A respiração livre, podíamos ora contemplar os dois mundos e rever o abismo espectral fatiado, a matéria fendida, fundamental anteparo da existência, primeira ponderação divina.
Fomos pela ida do caminho, como sempre, inaugurado. Vento bom, o leste, e a corrente a nos saudar, naquele tempo. Preparávamos a grande viagem, estreito e desconhecido caminho, à espreita, era tempo de deixar. Nossos idos esperavam, mesa posta, serventia. Abundância que nos fortificou e desfigurou em nossa própria obediência. Éramos pura necessidade, gota d'água.
Chegamos à selva escura. Faltos, rendemos homenagem ao mar, salgando os olhos e o fôlego. Sentimos a leve vertigem dos novos ares e empenhamos então a subida, nado pleno. Voltas e voltas, ômega. Deixei o fato e perseverei no caminho, água dura. Sentíamos agora só o cheiro da vida.
Plenipotência.
Irmãos meus morreram, porque assim quis o Peixe.
Amor que tínhamos era agora espremido na alcova de riacho. Festim da primavera, cachos de uva nos nossos estômagos regelados. Despido do trivial, não me foi permitida lembrança. A bem dizer nada. Potência, única, em transformar o que éramos em que seríamos. Alternadas vozes dos povos, aquilo que nos diz respeito.
Precisamos nesse dia, claro e cristalino. Deitamos o coração na pedra e esperamos.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Duplo Uia!



DGR

18/5/05 11:15  

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