terça-feira, agosto 03, 2004

Prepúcio dos deuses

Era uma vez um gigante moleirão e folgazão, que vivia numa terra de infinitos tédios e despreocupações. Seus flatos causavam horror a muitos imortais e ele se entristecia com isso, fadado ao eterno escárnio, o pobre sonhava com uma vida melhor para além da casa própria e uma poupança que, bem, deixemo-la...
Seu nome era Fafner e dispenso aqui contar sua história, que todos já a conhecem de velho. Mas ele não cobiçava a bela rapariga da eterna juventude, oh não, também era-lhe de somenos o ouro, o anel, todo aquele cagalhão que seduzia alvos e calvos músicos, corcundas, feiotes e desprovidos de altura. Não, soava-lhe diferente a música do torpor, ele só queria dormir, eis a verdade. E para tal, nosso fofo herói se transformou num imponente dragão que a licença poética quis fosse morto pelo maganão que nada queria com nada.
Os dragões são também extintos e eu enquanto eles sinto falta do tempo do ócio pleno, em que ao invés de morrer podíamos apenas dormir, completamente despreocupados. Ora, eu que ia de me haver com os outros se soubesse que um dia após o outro temer-me-iam, adorar-me-iam? Qual! À família real cabem alguns protocolos e eu cumpriria todos os ritos e tradições para poder então dormir e me esquecer talvez da existência futura apagada.