domingo, julho 31, 2005

C.

Tua imagem é cobra sem veneno
A esguiar-se sobre a pedra bruta
Do meu pensamento pleno,
Corpo de cobra que é todo voluta
Desenvolvido num peito escaleno:
Tua imagem resoluta.

Teus cabelos, escamas multiformes,
Trilhas na pedra feitas pelo vento
Por meus olhares enormes
Que buscam no teu corpo um vão intento,
Despertos para que já não te informes
Onde está meu aposento.

Tuas duas espáduas são as presas
Da víbora que a pedra grande lasca,
Cuidadas as mãos e presas.
Foi-te descolada do corpo a casca.
Desamparadas, as minhas defesas
Se arrepiam na nevasca.

Teus olhos são o fôlego da pedra
Cuja pele percebes ser a minha:
Isso que em ti de mim medra.
Teu ventre já não é cobra nenhuma
Por mais do que palavra, do que linha
Que o asceta o assuma.